sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Adeus, querido Siderlei.

 Por: Gerardo Iglesias | Rel UITA

Siderlei Oliveira, fundador da CUT Brasil e da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Alimentação (CONTAC), partiu em 29 de dezembro aos seus 74 anos.
Burlou o Covid, morrendo do coração, que tantas vezes testou em incontáveis batalhas onde participou sempre com a indignação a flor da pele e uma coragem que dava medo.
Protagonista incontestável na construção política e organizacional da Regional Latino-Americana da UITA, viajou para a Argentina em inúmeras ocasiões.
Em abril e julho de 2007 Siderlei participou ativamente na luta mantida por Fataga (águas gasosas) contra a transnacional AmBev, que pretendia demitir 5 mil trabalhadores e encerrar 17 distribuidoras. Protestos incluíram manifestações contra a embaixada do Brasil e da Bélgica, países de origem dos investidores. Nesse inverno o frio era inclemente em Buenos Aires, a tal ponto que no dia 9 de julho ocorreu uma neve histórica que os colegas da Federação se lembram até agora muito bem. Nunca vi o Siderlei tão pálido e desprovido de casaco até chegar, salvadora, um casaco de Fataga que agradeceu para sempre. As pessoas ao redor do Obelisco gritam: ′′ Argentina, Argentina...", misturando-se com o canto reivindicativo dos operários.
26 Congresso Mundial da UITA será lembrado para sempre. Corriam nos primeiros dias de outubro de 2012. Siderlei, e sua companheira de vida e de militância Geni Dalla Rosa, chegaram em Genebra com uma mala enorme. No seu interior viajou ′′ o frango gigante ", um disfarce que foi símbolo da campanha internacional de CONTAC e a UITA que denunciou as péssimas e precárias condições de trabalho nos frigoríficos no Brasil. Barbro Budim, secretária de educação da nossa Internacional nessa época, conseguiu uma cadeira de rodas. Durante o relatório regional entrou na sala ′′ o frango ′′ empurrando a cadeira, e nela um trabalhador todo vestido de branco simbolizando as lesões laborais que os trabalhadores e trabalhadoras estavam sofrendo nas avícolas brasileiras.
O Congresso foi suspenso, os delegados se amontoavam para tirar fotos, risadas e aplausos vieram de toda a tribuna. As cores na cara do então secretário geral subiam e desciam como em um semáforo decomposto. Ao sair do recinto, Geni e Siderlei tiravam o visual carnavalesco, rindo a mais não poder, e satisfeitos com a convicção de terem conseguido dar a mensagem que portavam.
Eu fico com aquele sorriso de menino malandro, sua capacidade criativa e sua terna rebeldia.
Sentiremos sua falta, querido amigo e companheiro. Muita luz na sua jornada!

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